O Tai Chi Chuan é
uma arte marcial, meditativa e terapêutica chinesa, conhecida por seus
movimentos circulares, contínuos, lentos, suaves e flexíveis, embora, na
prática de combate, também possam ser executados com velocidade e vigor (o nome
Tai Chi Chuan significa, literalmente, “Boxe da Suprema Cumeeira”). A prática,
que remonta ao século XIII, foi desenvolvida pelo sábio taoísta Chan Sanfeng,
após observar a luta entre uma serpente e um grou. O sábio ficou surpreso ao
ver que a serpente vencia a disputa sem aparentemente opor resistência,
executando ações ágeis, rápidas e circulares, enquanto o grou era pesado e
duro. Chan Sanfeng concluiu que a suavidade pode vencer a força bruta,
princípio já enunciado no Tao Te King
de Lao Zi (“A coisa mais macia da terra / vence a mais dura”, diz o fragmento
XLIII). Outras versões atribuem a
criação dessa arte a Chen Wanting, lutador chinês que viveu no século XVIII e
transmitiu secretamente os ensinamentos do Tai Chi dentro de sua família,
conforme a tradição da época. Seja qual for a sua verdadeira origem, a
influência do taoísmo e do I Ching está presente em todos os princípios e
técnicas do Tai Chi (cujo símbolo circular representa a interação entre os
princípios opostos complementares do Yin e do Yang), por exemplo em suas Treze
Posturas Essenciais, que se relacionam com os Oito Trigramas (ou Pa Kua) e os
Cinco Elementos, embora também sejam associadas às oito energias (desviar,
rolar para trás, pressionar, empurrar, puxar, golpear com o cotovelo, com o
ombro, rachar) e com os cinco passos (avançar, recuar, olhar para a esquerda,
fixar a direita, equilíbrio central). É possível verificarmos no Tai Chi,
também, a presença de movimentos que fazem parte do repertório geral das artes
marciais chinesas, tanto internas (neijia)
quanto externas (waijia), daí a
semelhança entre algumas técnicas de Tai Chi e de Kung Fu Shaolin, embora o
modo de execução seja diferente. Nas artes externas, privilegia-se o trabalho
com os músculos vermelhos, a força física, a rapidez e a capacidade física
atlética, por vezes acrobática (que consome muita energia); nas artes internas,
trabalha-se com o fortalecimento dos músculos internos, ou músculos brancos, com
a abertura dos chakras e meridianos e com o desenvolvimento e circulação da
energia interna, ou chi (chamado de ki em japonês), a mesma energia
empregada em técnicas terapêuticas, como o Shiatsu, a Acupuntura e o Do In, e
também na yoga alquímica chinesa. Na origem do Tai Chi, portanto, temos a união
do pugilismo chinês com ideias filosóficas, religiosas, medicinais e
esotéricas, embora a sua utilização principal fosse o combate; coube a Yang
Luchan, que aprendeu, às escondidas, o Tai Chi da Escola Chen, dar o passo
seguinte, transformando essa arte numa prática terapêutica, voltada aos objetivos
de retardar o envelhecimento, prolongar a vida e preservar a saúde, sem
abandonar o aspecto marcial. A Escola Yang, que se desenvolveu no século XIX e
sobrevive até os dias de hoje, deu origem a três outras escolas: Wu, Guo Weizhen
e Sun Lutang. Há diversas diferenças entre um e outro estilo, mesmo dentro da
mesma escola, tanto nos movimentos quanto no encadeamento e na execução, mas em
todos eles permanecem os princípios essenciais, sobretudo o treinamento da
energia interior (chi kung), sem o que o Tai Chi perde o seu sentido. O
ensinamento do Tai Chi nas escolas em geral compreende uma sequência de exercícios
preliminares, como os “Oito fios do brocado”, voltados à flexibilização dos
músculos, ao trabalho energético e à preservação da saúde; depois, a execução
dos katis, organizados na “Forma longa” (que pode ter até 108 movimentos), a “Forma
média” e a “Forma curta” (cada escola privilegia em geral uma dessas formas),
onde são encadeadas todas as técnicas de ataque e defesa, numa coreografia que
sugere ao espectador uma dança em câmera lenta. Em níveis mais avançados,
pratica-se o Tui Shou e o San Shou, técnicas de ataque e defesa realizadas com
um parceiro; e treinamentos individuais com armas como a espada, o sabre, o
leque e o bastão. No Brasil, o Tai Chi Chuan foi introduzido em meados da
década de 1970 por mestres como Liu Pai Lin (escola Yang), Wong (escola Wu),
Roque Severino e Angela Soci (escola Yang tradicional).