quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

OS CINCO ELEMENTOS NA CULTURA JAPONESA

Sensei Ruben Espionoza

Godai (os cinco grandes) são a representação do divino na Natureza, ele está em tudo e tudo está em nós.

Terra – Em japonês, Chi. Aos estudantes de língua japonesa, não confundir com tsuchi. São kanjis diferentes. Representa a energia sólida, a matéria.

Fogo – Em japonês, Hi. Representa a energia em movimento. Está associado aos impulsos e desejos.

Vento – Em japonês, Kaze. Representa a energia em expansão, o que está em crescimento. Associa-se à mente e ao conhecimento, à capacidade de expansão mental.

Água – Em japonês, Mizu. Representa a energia que flui, o que não tem forma. Está associada à capacidade de se adaptar às mudanças.

 Vazio – Em japonês, Sora, também significa “Céu”. Representa tudo o que envolve a experiência. Está associado ao espírito, ao impulso inicial, à energia necessária à criação de todas as outras coisas relacionadas aos outros elementos.

 O Godai é representado nas pagodas (em sânscrito, stupa), sendo a mais conhecida o gorintou, ou a pagoda de cinco anéis. O gorintou é uma estrutura de pedra que contém cinco anéis de formas diferentes, cada um simbolizando um dos cinco elementos

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

KENJUTSU, A ARTE DA ESPADA SAMURAI



O Kenjutsu, a arte da espada samurai, nasceu no período medieval japonês, tendo se desenvolvido a partir do Período Muromachi (séculos XV e XVI), quando surgiram os principais estilos dessa arte, voltada ao emprego nos campos de batalha. A espada utilizada pelos guerreiros japoneses, conhecidos como samurais, era a kataná, lâmina de aço curva surgida no Período Heian (794-1185), levada na cintura ao lado de uma espada menor, a kodachi. O combate com a espada era usado sobretudo nas lutas contra adversários localizados a curta distância, apoiando a ação da cavalaria, dos arqueiros e dos soldados de infantaria armados com lanças. As táticas e estratégias militares, as armas e equipamentos de proteção desenvolvidos nos feudos japoneses eram essenciais numa época em que o Japão esteve envolvido em conflitos entre os senhores da guerra locais e contra países vizinhos. Apesar do caráter guerreiro da arte da espada, ela estava relacionada com um rigoroso código de ética, chamado bushidô (“o caminho do guerreiro”), influenciado por ideias filosóficas de Confúcio e do taoísmo chinês. O samurai não era um simples soldado, mas um guerreiro refinado, que dedicava sua vida à defesa de seu mestre e dos valores e princípios de uma sociedade aristocrática em que a etiqueta, a beleza e a busca da perfeição estavam presentes em todos os campos da vida social. Com a unificação do país pelo xogum Ieyasu Tokugawa, no século XVII, o Japão conheceu um período prolongado de paz e a classe dos guerreiros ingressou na administração pública. As artes de combate foram então reformuladas, tendo como objetivos, agora, não apenas matar adversários na guerra, mas promover a paz interior, a realização espiritual, a preservação da saúde e da energia interna e estimular virtudes como a honestidade, a justiça, a lealdade, o respeito, a honra, a coragem e a compaixão. O bujutsu, ou artes da guerra, transformou-se em budô, artes da paz, da harmonia, do equilíbrio e da espiritualidade. Esse foi o espírito que animou as diversas artes tradicionais praticadas pela aristocracia japonesa, como a caligrafia, poesia, pintura, cerimônia do chá ou teatro nô, influenciadas pela filosofia zen-budista, seguida pelos samurais. A combinação da prática marcial com o da literatura e outras artes ficou conhecido como “o caminho combinado da caneta e da espada”. O Kenjutsu tornou-se uma arte espiritual e meditativa, porém, sem perder o seu caráter guerreiro e a sua eficiência. O ensino da arte passou a ser realizado em dojos, sob os cuidados de um mestre, ou sensei, por meio do ensino de diversas técnicas, ou katás, que são movimentos de ataque e defesa com a espada, realizados em duplas – um aluno (tori) realiza o ataque com a espada, e outro aluno (ukê) realiza a defesa, em diferentes sequências de movimentos. Em geral, usa-se a espada de madeira, ou bokutô, ao contrário de outras artes da esgrima japonesa, que utilizam a espada de bambu, ou shinái, ideal para competições esportivas, como acontece no Kendô, ou a espada de aço sem corte, a Iaitô, utilizada em artes de saque e guarda da espada, como o Iaijutsu e o Iaidô. Todas essas artes provêm do amplo repertório das formas de utilização da espada pelos guerreiros samurais, mas foram reformuladas para a prática nos tempos modernos. Além do treino dos katás, que são diferentes nas várias escolas, há exercícios preparatórios, conhecidos como kihons, que têm como finalidade exercitar a flexibilidade, o relaxamento, a leveza, a agilidade, e sobretudo o trabalho com a energia interna, ou ki, com os músculos brancos, pouco estimulados em outras formas de prática corporal, e sobretudo o treino com a cintura, ou koshi, base de todas as técnicas de Kenjutsu e de outras formas de artes marciais japonesas, como o Aikidô. Há centenas de estilos dessa arte, sendo que muitos deles se perderam, após a II Guerra Mundial. No Brasil, a primeira arte marcial com a espada praticada no país foi o Kendô, um esporte de competição que valoriza a velocidade, a força e a marcação de pontos, que acontece quando um espadachim acerta a cabeça, o antebraço ou outro ponto do corpo do adversário. Essa arte, praticada com equipamentos de proteção corporal, inspirados na armadura samurai, segue regras específicas voltadas para a participação em campeonatos e demonstrações esportivas. O Kenjutsu, que chegou mais tarde ao país, não é um esporte: mantém o caráter marcial, por isso mesmo não participa de campeonatos, nem possui um sistema de graduação desde a faixa branca até a faixa preta, como acontece no Judô ou no Karatê. Seus praticantes utilizam o dogui (quimono) e o obi (faixa) na cor branca, que no Japão é a cor da morte – neste caso, não a morte física, mas a morte de um antigo eu para o nascimento de um outro eu, mais sensível, receptivo, forte e saudável.  Os objetivos do Kenjutsu na época atual, segundo o sensei Ruben Espinoza, que ensina o estilo Hiramatsu-ryu em São Paulo, são os seguintes: estimular a capacidade mental de concentração, atenção, percepção, tomada de decisões, respeito e disciplina dos praticantes, através do treino dos katás; aumentar a capacidade física de coordenação motora, reflexos, velocidade, força, precisão e resistência; promover a saúde física, mental e espiritual; e resgatar a arte da espada samurai antiga, trazendo inovações nos treinos com influência das artes corporais modernas. 

P.S.: O Kenjutsu Hiramatsu-ryu é uma arte marcial espiritual de meditação em movimento que ajuda a desenvolver o espírito do guerreiro interior através da arte, sem perder a eficiência técnica da arte marcial samurai. O estilo foi trazido ao Brasil por Yamato Hiramatsu, que estudou diversos estilos antigos, como o Shinkage-ryu, Tamiya-ryu e Shinkenjutsu.

domingo, 19 de agosto de 2018

O TAI CHI COMO ARTE MARCIAL









O Tai Chi Chuan é mais conhecido por sua sequência de movimentos circulares, lentos e suaves, que sugerem uma forma de dança, meditação, ginástica ou prática energética e terapêutica, mas ele é também uma arte de combate, o que está indicado em seu próprio nome – a palavra chuan, em chinês, significa punho, luta ou técnica marcial. Como outras artes da Escola Interna (neijia), porém, o Tai Chi não faz uso da força bruta, baseada nos ossos e músculos vermelhos, mas da energia interior, chamada chi (ou ki, em japonês) e utiliza diversas técnicas que absorvem, transformam e devolvem a força do adversário contra ele mesmo (assim como acontece, em formas diferentes, no Aikidô), fazendo uso da flexibilidade, da respiração e das ações circulares ou espiraladas, em vez de gestos pesados, rígidos e duros. Os movimentos do Tai Chi são lentos, no aprendizado, mas também podem ser executados com muita rapidez, quando empregados para o ataque ou a defesa. O treinamento marcial do Tai Chi Chuan acontece, sobretudo, na prática de duas séries de exercícios, realizados com parceiro, que se chamam Tui Shou (“pressão das mãos”) e San Shou (“dispersão das mãos”). Conforme escreve Catherine Despeux no livro Tai Chi Chuan, Arte Marcial, Técnica de Longa Vida: “Estes exercícios a dois destinam-se, particularmente, à aplicação dos movimentos de encadeamento no combate. Entretanto, ainda que não trabalhemos o aspecto marcial do Tai Chi Chuan, tais exercícios oferecem múltiplas vantagens. Citemos algumas: permitem-nos adquirir melhor coordenação motora, aprender a perceber melhor o contendor e o modo com que nos colocamos em relação ao mundo exterior e estimulam o interesse das pessoas que encontram dificuldades no aprendizado de movimentos lentos, notadamente as crianças. (...) Todos os exercícios de pressão das mãos têm por base os quatro movimentos principais do Tai Chi Chuan, que correspondem aos quatro pontos cardeais e aos quatro trigramas Quian, Kun, Kan e Li. São eles: aparar o golpe (peng), puxar para trás (lu), empurrar para a frente (ji) e repelir (an). (...) A escola Yang instaurou um encadeamento a dois (San Shou) no qual um dos contendores faz um movimento do encadeamento do Tai Chi Chuan, ao passo que o outro responde por outro movimento do Tai Chi Chuan, que será a defesa, e assim por diante. Desse modo, se A executar o movimento ‘dar um soco’, B se defenderá efetuando o movimento ‘erguer as mãos’. (...) Nesses movimentos, o ataque se faz com a palma, o punho, o pulso, o cotovelo, o ombro, os joelhos e os pés. A resposta a cada golpe do adversário efetua-se no momento de recepção do golpe, no instante em que o adversário emite sua energia.”  

sábado, 18 de agosto de 2018

A ESPADA DE TAI CHI CHUAN







Afastar a grama à procura da serpente, Fênix estende as asas, Vento curva as folhas de lótus, Cavalo celeste galopando no céu, Macaco branco oferece frutas, Vento varre a flor de pessegueiro. Estes são os nomes de alguns dos 54 movimentos da Espada de Tai Chi (Tai Chi Jian), arte marcial chinesa que remonta à dinastia Sung (960 – 279 d.C.). A arma utilizada nessa prática é a  jian, uma espada reta, afiada nos dois lados da lâmina, que possui cerca de 90cm de comprimento e é manejada pelo espadachim com uma só mão. A jian surgiu há cerca de 2.500 anos na China e os primeiros registros escritos que mencionam essa espada remontam ao século VII a.C. Conforme o mestre Liu Chih Ming, "a simplicidade de seus movimentos contém uma extrema sutileza e magia. A leveza e a agilidade de seus movimentos resultam num bailado gracioso e belo, no entanto, se utilizados como arte marcial, podem se transformar em movimentos poderosos e firmes. Além disso, a prática da Espada de Tai Chi tem grandes efeitos terapêuticos. A Espada de Tai Chi tem sua raiz no Tai Chi Chuan, sendo a espada uma extensão do corpo. Na prática da Espada de Tai Chi, o domínio não se consegue só com a mão, mas sim com todo o corpo. A magia do movimento está no fato de que a extensão guia a energia, esta por sua vez guia o corpo. Nessa prática pode-se chegar a um estágio elevado onde ocorre a união da espada com o ser: a espada adquire vida e passa a fazer parte do corpo, e, por fim, não são os movimentos da espada que acompanham o corpo, e sim o corpo que acompanha a espada".

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A ARTE DO TAI CHI CHUAN,











O Tai Chi Chuan é uma arte marcial, meditativa e terapêutica chinesa, conhecida por seus movimentos circulares, contínuos, lentos, suaves e flexíveis, embora, na prática de combate, também possam ser executados com velocidade e vigor (o nome Tai Chi Chuan significa, literalmente, “Boxe da Suprema Cumeeira”). A prática, que remonta ao século XIII, foi desenvolvida pelo sábio taoísta Chan Sanfeng, após observar a luta entre uma serpente e um grou. O sábio ficou surpreso ao ver que a serpente vencia a disputa sem aparentemente opor resistência, executando ações ágeis, rápidas e circulares, enquanto o grou era pesado e duro. Chan Sanfeng concluiu que a suavidade pode vencer a força bruta, princípio já enunciado no Tao Te King de Lao Zi (“A coisa mais macia da terra / vence a mais dura”, diz o fragmento XLIII).  Outras versões atribuem a criação dessa arte a Chen Wanting, lutador chinês que viveu no século XVIII e transmitiu secretamente os ensinamentos do Tai Chi dentro de sua família, conforme a tradição da época. Seja qual for a sua verdadeira origem, a influência do taoísmo e do I Ching está presente em todos os princípios e técnicas do Tai Chi (cujo símbolo circular representa a interação entre os princípios opostos complementares do Yin e do Yang), por exemplo em suas Treze Posturas Essenciais, que se relacionam com os Oito Trigramas (ou Pa Kua) e os Cinco Elementos, embora também sejam associadas às oito energias (desviar, rolar para trás, pressionar, empurrar, puxar, golpear com o cotovelo, com o ombro, rachar) e com os cinco passos (avançar, recuar, olhar para a esquerda, fixar a direita, equilíbrio central). É possível verificarmos no Tai Chi, também, a presença de movimentos que fazem parte do repertório geral das artes marciais chinesas, tanto internas (neijia) quanto externas (waijia), daí a semelhança entre algumas técnicas de Tai Chi e de Kung Fu Shaolin, embora o modo de execução seja diferente. Nas artes externas, privilegia-se o trabalho com os músculos vermelhos, a força física, a rapidez e a capacidade física atlética, por vezes acrobática (que consome muita energia); nas artes internas, trabalha-se com o fortalecimento dos músculos internos, ou músculos brancos, com a abertura dos chakras e meridianos e com o desenvolvimento e circulação da energia interna, ou chi (chamado de ki em japonês), a mesma energia empregada em técnicas terapêuticas, como o Shiatsu, a Acupuntura e o Do In, e também na yoga alquímica chinesa. Na origem do Tai Chi, portanto, temos a união do pugilismo chinês com ideias filosóficas, religiosas, medicinais e esotéricas, embora a sua utilização principal fosse o combate; coube a Yang Luchan, que aprendeu, às escondidas, o Tai Chi da Escola Chen, dar o passo seguinte, transformando essa arte numa prática terapêutica, voltada aos objetivos de retardar o envelhecimento, prolongar a vida e preservar a saúde, sem abandonar o aspecto marcial. A Escola Yang, que se desenvolveu no século XIX e sobrevive até os dias de hoje, deu origem a três outras escolas: Wu, Guo Weizhen e Sun Lutang. Há diversas diferenças entre um e outro estilo, mesmo dentro da mesma escola, tanto nos movimentos quanto no encadeamento e na execução, mas em todos eles permanecem os princípios essenciais, sobretudo o treinamento da energia interior (chi kung), sem o que o Tai Chi perde o seu sentido. O ensinamento do Tai Chi nas escolas em geral compreende uma sequência de exercícios preliminares, como os “Oito fios do brocado”, voltados à flexibilização dos músculos, ao trabalho energético e à preservação da saúde; depois, a execução dos katis, organizados na “Forma longa” (que pode ter até 108 movimentos), a “Forma média” e a “Forma curta” (cada escola privilegia em geral uma dessas formas), onde são encadeadas todas as técnicas de ataque e defesa, numa coreografia que sugere ao espectador uma dança em câmera lenta. Em níveis mais avançados, pratica-se o Tui Shou e o San Shou, técnicas de ataque e defesa realizadas com um parceiro; e treinamentos individuais com armas como a espada, o sabre, o leque e o bastão. No Brasil, o Tai Chi Chuan foi introduzido em meados da década de 1970 por mestres como Liu Pai Lin (escola Yang), Wong (escola Wu), Roque Severino e Angela Soci (escola Yang tradicional).   


segunda-feira, 16 de julho de 2018

KOBUDÔ: A TRADIÇÃO DAS ARMAS DE OKINAWA










O Kobudô (古武道?), também conhecido Ryukyu Kobudô, ou “caminho das antigas artes marciais” é uma disciplina surgida na ilha de Okinawa que inclui o aprendizado de diferentes armas, como Sai, Nunchaku, Tonfa, Bô, Eku e Kama, instrumentos de trabalho usados na agricultura transformados depois em armas para a defesa dos trabalhadores conta ataques de piratas. Com a proibição da fabricação, comércio, porte e uso de espadas imposta pelo governo local à população, essa foi a maneira encontrada pelos camponeses e pescadores da ilha para a sua proteção. É impossível sabermos o período exato em que o Kobudô surgiu, porque os arquivos históricos de Okinawa foram destruídos por bombardeios norte-americanos durante a II Guerra Mundial, mas é possível que tenha ocorrido entre os séculos XV e XVI, época de expansão do comércio da ilha. Em 1609, Okinawa foi invadida pelo clã de Satsuma, ligado ao xogum Tokugawa, que reforçou o banimento do uso de armas de metal, o que contribuiu também para o desenvolvimento de outra arte marcial, o Karatê, a “arte das mãos vazias”, popularizado mais tarde no arquipélago japonês pelo sensei Funakoshi. O Kobudô é considerado por alguns pesquisadores como precursor do Karatê e vários estilos dessa arte incluem o treinamento nessa disciplina de armas. No Brasil, a arte do Kobudô foi introduzida pelo sensei Shikan Akamine, que desembarcou no país em 1958.

Armas tradicionais usadas no Kobudô:

SAI           

Adaga de três pontas, semelhante a um pequeno tridente, derivado de uma ferramenta agrícola usada para a semeadura nos campos (segundo outra versão, usada para a construção de cercas). Arma de difícil manuseio, pode ser utilizada para quebrar a espada de um samurai, travando-a nas hastes menores, atravessar armaduras, perfurar o adversário com as pontas ou ainda como arma de arremesso.

NUNCHAKU

Formado por dois pedaços de madeira colocados nas pontas de uma corrente ou corda, é usada para golpear fortemente o adversário, desarmá-lo, imobilizar uma parte de seu corpo, entre outras ações. É usado também em outras artes marciais, como o Kung Fu chinês e o Tae Kwon Dô coreano.

TONFA

É um tipo de cassetete utilizado ainda hoje por forças policiais em vários países do mundo, inclusive o Brasil.

BO
É o bastão longo japonês, com cerca de 1,80m, utilizado também no Bojutsu. Em sua origem, era usado como instrumento para se carregar baldes presos em cada ponta. O bô é uma arma poderosa, de alto poder de impacto, capaz de ser utilizado com eficiência mesmo contra um adversário armado com uma espada.

EKU

Remo utilizado em canoas pelos pescadores de Okinawa, era empregado sobretudo em combates realizados na praia, inclusive para jogar areia no rosto do adversário. Um pouco menor do que o bô em comprimento, suas extremidades podiam infligir danos sérios ao oponente.

KAMA

Pequena foice usada aos pares ou sozinha, era usada no trabalho agrícola, especialmente nas plantações de cereais.


sábado, 14 de julho de 2018

O CAMINHO DA NAGUINATA





A naguinata (長刀・薙刀) é uma arma japonesa formada por uma haste de madeira com uma lâmina curva em uma das pontas, semelhante à alabarda europeia. O comprimento varia conforme o estilo e a escola, mas em geral a arma tem entre 2m e 2,50m, sendo que apenas a lâmina de aço, que é removível, tem de 30cm a 60cm. A naguinata surgiu, possivelmente, no Período Heian (794 d.C – 1185 d. C) e foi muito usada pelas onna-bugeisha, mulheres guerreiras das famílias aristocráticas, e pelos sohei, monges budistas, mas também por soldados de infantaria, ou ashigaru. Diversos estilos de bujutsu (artes da guerra) incorporaram técnicas de combate com a naguinata ao lado das artes tradicionais da espada, lança e arco e flecha, como é o caso do Suio-ryu, Katori Shinto-ryu e Yoshin-ryu e o uso da alabarda foi comum entre as esposas dos samurais, para a defesa de seus lares em períodos de guerra. Entre o final do Período Tokugawa e a Restauração Meiji, quando começa a modernização do Japão, surgiu uma nova arte marcial a partir da prática com essa arma, a Naguinata-do 薙刀道 ("caminho da naguinata"), que foi incorporada ao currículo escolar de educação física para as meninas no Período Showa (1926-1989). Os movimentos com a alabarda japonesa incluem cortes e defesas em todas as direções, com muita energia, ritmo e beleza. Conforme escrevem Howard Reid e Michael Croucher no livro O caminho do guerreiro: “Durante o Período Edo (...), realizaram-se as primeiras experiências de competição. Para fins de competição, a lâmina da alabarda foi substituída por duas peças de bambu com uma ponta de couro, o que tornava a extremidade funcional da arma muito semelhante à espada de bambu ou shinái. Num dos usos populares que se dava a essa arma leve, ela era usada por uma mulher em luta contra um homem armado da espada de bambu shinái. Nessas ocasiões, usavam-se trajes de proteção. A alabarda foi proibida junto com todas as outras armas depois da Segunda Guerra Mundial, mas o naguinata-dô esportivo foi um dos primeiros sistemas de uso de armas a ressurgir depois de suspensa a proibição dos aliados. Em sua nova forma, o caminho ficou muito mais voltado para as competições esportivas e ainda mais regrado do que era antes. Uma federação nacional foi constituída em 1956 e, hoje em dia, mais de dois milhões de mulheres praticam a forma esportiva, embora sejam poucas as que pratiquem as formas clássicas e mais austeras da disciplina.”  


domingo, 8 de julho de 2018

KABUTO, O CAPACETE TRADICIONAL SAMURAI


A ARMADURA SAMURAI







Os samurais lutaram no período feudal japonês contra exércitos de países vizinhos, como a China e a Coreia, e também se envolveram em diversos conflitos entre os diferentes clãs japoneses, até a unificação do país no Período Tokugawa, no século XVII, que deu início a um longo período de paz. A armadura utilizada pelos samurais era essencial para a proteção dos guerreiros no campo de batalha, numa época em que as principais armas utilizadas eram a espada, a lança e o arco e flecha, até a introdução das armas de fogo pelos portugueses, no Período Namban, no século XVI, fato que irá modificar completamente as formas de luta dos samurais. A armadura tradicional japonesa pode ter evoluído a partir das antigas armaduras chinesas, mas adquiriu características próprias. Durante o Período Heian (794-1185), os fabricantes de armaduras japonesas usaram como matérias-primas o couro, o ferro, a laca e até mesmo a seda, de modo que a proteção fosse ao mesmo tempo resistente, leve e confortável, em comparação com as pesadas armaduras de ferro europeias, e também adaptada ao severo clima japonês. O samurai deveria ter mobilidade suficiente para montar a cavalo, disparar o arco e flecha e eventualmente lutar de pé, com espada ou lança, logo, a armadura não poderia dificultar os seus movimentos. Conforme escreve Thomas D. Conlan, "no Japão, a armadura dos samurais era normalmente conhecida como 'grande armadura' (oyoroi). Tinha um formato de caixa, com mangas (sode) proeminentes. A armadura era feita de milhares de pequenas placas, chamadas sane, feitas de madeira e revestidas de laca. Frequentemente, na região peitoral, as sane de madeira laqueada eram reforçadas com placas de metal, para evitar disparos mortais no peito. (...) O elmo (kabuto) era geralmente feito de ferro, com abas de sane protegendo os lados e a parte de trás. do pescoço  (...) Havia um pequeno visor na parte da frente do elmo. Os elmos também eram pesados, tanto que os samurais proeminentes não os usavam até irem para a batalha. (...) Acreditava-se que os dois grandes chifres, os kuwagata, proporciovam poderes místicos a seus portadores".         

sábado, 7 de julho de 2018

KENDÔ: A UNIÃO ENTRE O CORPO, A MENTE E A ESPADA







O Kendo (em japonês剣道caminho da espada) é uma arte marcial japonesa derivada das técnicas de combate com a espada do Japão medieval, codificadas nos vários estilos de Kenjutsu.  Ao contrário da arte guerreira, o Kendô, em sua origem, estava voltado ao caminho espiritual, sob influência do zen-budismo. Entre seus princípios, estão o cultivo da mente e da paz interior pela prática da espada, o fortalecimento da saúde, o estímulo à cortesia e à honra e o cultivo de valores como a sinceridade, o respeito e o amor ao próximo, valores estabelecidos em 1975 pela All Japan Kendo Federation. Para atingir esses objetivos, o praticante deve conquistar a união entre o corpo, a mente e a espada. O Kendo foi desenvolvido a partir do Período Tokugawa, em que o Japão viveu um longo período de paz. Os samurais não eram mais requisitados para as batalhas, e passaram a cumprir funções burocráticas e administrativas, além de se dedicarem a artes como a pintura (sumiê), caligrafia (shodô), cerimônia do chá e teatro nô. As antigas técnicas guerreiras também foram modificadas, sendo praticadas, agora, como disciplinas para a realização espiritual. É neste contexto que, no século XVIII, Yamada Heisaemon e Naganuma Shiro da escola Jikishinkage-ryu e Nakanishi Chuzo da escola Itto-ryu,introduziram uma espada feita com tiras de bambu (shinái), nos treinos, em substituição à espada de madeira (bokutô) ou de aço (kataná) utilizadas em outras modalidades da esgrima japonesa. Esta é a gênese do Kendo, que até hoje utiliza a shinái, e também um tipo particular de armadura, para a proteção corporal. Durante o período da Restauração Meiji, o Kendô, assim como o Judô, foi introduzido nas escolas e universidades japonesas como atividade de educação física, obtendo grande popularidade. Após a derrota do Japão na II Guerra Mundial, o Kendô foi proibido pelas autoridades de ocupação norte-americanas, assim como outras artes marciais (com exceção do Karatê), sendo reabilitado a partir de 1952. Desde então, essa arte tem se expandido pelo Ocidente, ganhando numerosos adeptos. Atualmente, o Kendo é praticado, sobretudo, como uma modalidade esportiva de competição, em que o objetivo é conquistar pontos, o que acontece quando um praticante acerta com a espada o topo da cabeça, a garganta, os ombros, o centro e os lados do peito e a parte de cima das mãos e dos pulsos do adversário (partes do corpo que estariam normalmente protegidas pela armadura usada pelos samurais). No Brasil, o Kendo foi introduzido em 1908, sendo praticado, na época, sobretudo pelos imigrantes japoneses. Em 1933, surgiu a primeira associação brasileira de Judô e Kendo, a Hakoku Ju-Ken Do Ren-Mei. Nesta época, destacam-se os mestres Eiji Kikuchi Sensei, Ryunosuke Murakami Sensei e Kobayashi Sensei. Em 1959, acontece a fundação da Associação Brasileira de Kendo (Zen Haku Kendo Ren-Mei, em japonês). Em São Paulo, os primeiros treinamentos aconteceram em um dos primeiros clubes fundados pela comunidade nipo-brasileira, a Associação Cultural e Esportiva Piratininga (ACEP), que até hoje leciona essa modalidade, e também o Iaidô,  realizando eventos oficiais, apresentações, campeonatos e exames de graduação no Brasil.

Entre diversos mestres e escolas de Kendo podemos citar:
·         Ono-ha Itto-ryū – Kagehisa;
·         Shintō Munen-ryū – Watanabe Noboru, Shibae Umpachiro, Negishi Shigoro;
·         Musashi-ryū – Mihashi Kanichiro;
·         Jikishin Kage-ryū – Tokuno Kanshiro, Abe Morie;
·         Kyoshin Mechi-ryū – Sakabe Daisaku.


sexta-feira, 6 de julho de 2018

O CAMINHO DO ARCO E FLECHA








No período medieval japonês, as principais armas empregadas nos campos de batalha eram as lanças e os arcos,  utilizados por guerreiros montados em cavalos, enquanto as espadas eram usadas em combates a curta distância. Os samurais, portanto, recebiam treinamento no manuseio de vários tipos de armas, adequadas a diferentes situações, além das técnicas de lutas corpo a corpo, como o Jujutsu. A arte de combate com o arco e flecha, ou Kyujutsu, utilizava arcos longos, que mediam até dois metros de comprimento. “Apesar de serem compridos, eles podiam ser usados enquanto se cavalgava, uma vez que eram segurados no meio, porém mais perto da extremidade de baixo”, diz Thomas D. Conlan, no livro Armas e técnicas de luta dos guerreiros samurais. Conforme escreve o autor norte-americano, “os arcos mais antigos e mais simples que ainda sobrevivem eram feitos de galhos flexíveis, como brotos ou ripas retiradas de pedaços de madeira. Mais tarde, em arcos compostos, nos quais se usava cola feita de entranhas de cervo, a parte interna do arco era feita de bambu (...). As flechas também tinham haste de bambu, de três anos de idade. As pontas das flechas eram feitas de ferro ou aço, e tinham uma longa haste que se encaixava no bambu oco. Uma variedade de penas de aves era usada para ajudar as flechas a voarem longe e com precisão – a maioria delas sendo retirada de aves de rapina.(...) Os samurais levavam consigo algumas flechas especiais com seus nomes gravados, e usavam-nas ao mirar em oponentes de elevada patente, o que lhes permitia receber crédito por essa morte”.

Com a utilização das modernas armas de fogo, as formas de luta dos guerreiros samurais foram se modificando, até se tornarem já anacrônicas, em meados do século XIX, quando os canhões e metralhadoras passaram a ser os reis e rainhas dos campos de batalha. As antigas artes marciais foram então reformuladas,  tendo como objetivo não mais matar oponentes na guerra, mas cultivar a espiritualidade, a paz interior, a elegância, o refinamento artístico, a saúde e a longevidade, sem abrirem mão de sua eficácia. É neste contexto que o Kyujutsu (técnica ou arte do arco) transforma-se em Kyudo (caminho do arco), com forte influência zen-budista, como Eugen Herrigel relata no livro A arte cavalheiresca do arqueiro zen.

No que consiste o Kyudo? Segundo Howard Reid e Michael Croucher, no livro O caminho do guerreiro, “nesta prática altamente refinada, todo o desejo de atingir o alvo durante os atos de estirar o arco, mirar e disparar a flecha é substituído pela concentração na harmonização perfeita da respiração, do pensamento e da ação. O objetivo confesso do praticante de Kyudo é o de criar um elo entre o seu espírito e o alvo no momento do tiro. Atingir o alvo é um detalhe de importância secundária; o que importa de fato é que os movimentos preparatórios, como os de encaixar a flecha na corda do arco, levantar o arco e estirá-lo, sejam todos realizados segundo a forma perfeita. Cada movimento deve ser acompanhado pela respiração harmonizada e pela concentração mental, técnicas cujo desenvolvimento leva anos. No Japão antigo, o arco era considerado um objeto de boa fortuna, e o disparo de flechas com pontas ocas que assoviam pelo ar ainda marca o início de muitos rituais importantes da religião xintoísta”. 

segunda-feira, 2 de julho de 2018

IAI, A ARTE DE SACAR A ESPADA











Iaijutsu (居合術) é uma modalidade da esgrima japonesa que consiste em sacar a espada (batô), realizar cortes (kiri), limpar a lâmina (tiburi) e guardá-la na bainha (notô). Todos os katás são individuais e o praticante utiliza a lâmina de aço sem fio (iaitô) e calças largas pretas ou brancas (hakamá) sobre o quimono. Parte das técnicas são realizadas a partir da posição sentada. Conforme Luiz Kobayashi, no livro Peregrinos do Sol – A Arte da Espada Samurai, as técnicas de Iaijutsu “foram desenvolvidas para o campo de batalha, quando uma lança se quebrava e o guerreiro precisava sacar rapidamente a espada para não dar oportunidade de ataque ao oponente.  (...) A luta de um mestre de iai consistia basicamente em se aproximar ao máximo do oponente, sacando a espada somente no último momento”. O Iaijutsu tem numerosos estilos e modificou-se ao longo do tempo, dando origem ao Iaidô (居合道), que manteve os movimentos marciais, porém, com foco nos aspectos meditativos, com influência do zen-budismo. Segundo Howard Reid e Michael Croucher, no livro O Caminho do Guerreiro, “O Iaidô, ou ‘caminho do desembainhar da espada’, desenvolveu-se a partir da arte marcial Iaijutsu, ‘a arte de desembainhar a espada’. Seus movimentos se tornaram muito mais lentos (...). No iaidô, o praticante passa muito tempo procurando a postura e o equilíbrio perfeitos. A posição agachada, originalmente usada para ataques noturnos, é empregada com frequência; mas, quando chega o momento de desembainhar a espada, o espadachim concentra-se na realização de um movimento lento e homogêneo. Depois, descreve com a espada movimentos de curvatura perfeita, limpa meticulosamente a lâmina e a devolve à bainha (...). Quando executado com perfeição, o Iaidô é feito de movimentos belíssimos, como se fosse uma espécie de dança com a espada”.




domingo, 1 de julho de 2018

KENBU, A ARTE ESPIRITUAL DA ESPADA








Kenbu é uma das modalidades da esgrima japonesa, em que os praticantes utilizam a espada de aço sem corte (iaitô), calças largas pretas (hakamá) e meias pretas ou brancas (tabi) que faziam parte do vestuário dos samurais. O Kenbu é uma arte espiritual, meditativa, que valoriza a etiqueta, o respeito, a beleza estética e o desenvolvimento ético do ser humano, embora os seus movimentos sejam marciais. Um estilo de Kenbu desenvolvido pelo shihan Hiroyuki Aoki, denominado Kenbu Tenshin-ryu (a palavra Tenshin significa “verdade celestial” e ryu, “escola”) é praticado no Brasil desde 2018, ministrado pelo sensei Ruben Espinoza. Entre os princípios desta arte estão os seguintes: a) ser natural; b) relaxar e tornar-se um com o katá; c) unificar o próprio corpo; d) unificar-se com o próximo; e) unificar-se mutuamente com o katá, o parceiro e com o espaço da prática; f) tornar a mente livre; g) tornar-se vazio (no sentido taoísta e zen-budista, em que o vazio é o absoluto, a origem da vida e do universo); e h) tornar-se saudável. A instituição internacional responsável pela divulgação e normatização dessa arte é a Tenshinkai, localizada em Tóquio.

NA FOTO: shihan Wilson Motizuki, um dos principais divulgadores do Kenbu no Brasil.


sexta-feira, 29 de junho de 2018

BUSHIDÔ, O CREDO DOS SAMURAIS











Bushido (武士道?, "caminho do guerreiro") é o código de conduta dos samurais, a classe guerreira do Japão medieval, que cultivava, além da prática das artes militares (bujutsu), o estudo dos clássicos da filosofia chinesa e japonesa, práticas cerimoniais e de etiqueta e diversas artes tradicionais (cerimônia do chá, poesia, arranjos florais, caligrafia, teatro nô, entre outras), em busca do refinamento espiritual e de uma conduta de vida regida pela honra, coragem, beleza e ética. O pensamento dos samurais, sintetizado em seu código de honra, o Bushidô, era uma síntese das principais doutrinas filosóficas e religiosas da época: xintoísmo, confucionismo, taoísmo e zen-budismo. Estabelecido entre os séculos IX e XII, obteve o seu apogeu no Período Tokugawa, no século XVII.   

As sete principais virtudes cultivadas pelos samurais são representadas em suas próprias vestes, nas sete pregas do hakamá (calça larga preta usada hoje em algumas artes marciais, como Aikidô, Iaidô e Kenbu):


GI: Honestidade e Justiça.

YU: Bravura, Valor.

JIN: Compaixão.

REI: Respeito.

MEIYO: Honra.

MAKOTO: Sinceridade, Verdade Absoluta.

CHUU: Fidelidade. 


CREDO SAMURAI

Eu não tenho pais, faço do céu e da terra meus pais. 
Eu não tenho casa, faço do mundo minha casa. 
Eu não tenho poder divino, faço da honestidade meu poder divino. 
Eu não tenho pretensões, faço da minha disciplina minha pretensão. 
Eu não tenho poderes mágicos, faço da personalidade meus poderes mágicos. 
Eu não tenho vida ou morte, faço das duas uma, tenho vida e morte.

Eu não tenho visão, faço da luz do trovão a minha visão. 
Eu não tenho audição, faço da sensibilidade meus ouvidos. 
Eu não tenho língua, faço da prontidão minha língua.

Eu não tenho leis, faço da auto-defesa minha lei. 
Eu não tenho estratégia, faço do direito de matar e do direito de salvar vidas minha estratégia. 
Eu não tenho projetos, faço do apego às oportunidades meus projetos. 
Eu não tenho princípios, faço da adaptação a todas as circunstâncias meu princípio. 
Eu não tenho táticas, faço da escassez e da abundância minha tática.

Eu não tenho talentos, faço da minha imaginação meus talentos. 
Eu não tenho amigos, faço da minha mente minha única amiga. 
Eu não tenho inimigos, faço do descuido meu inimigo. 
Eu não tenho armadura, faço da benevolência minha armadura. 
Eu não tenho castelo, faço do caráter meu castelo. 
Eu não tenho espada, faço da perseverança minha espada.



A MENTE LIVRE DO ESPADACHIM








O Kenjutsu, arte da espada samurai, não é apenas um conjunto de técnicas de ataque e defesa, mas também um exercício de sensibilidade, tranquilidade, concentração e plena atenção, como nas práticas meditativas zen-budistas. Os combates entre guerreiros japoneses duravam pouco segundos; não era suficiente, para obter a vitória, numa luta de vida e morte, a força física, a velocidade ou o conhecimento da técnica, mas sobretudo a percepção dos movimentos do outro, a partir de sua postura corporal, respiração, olhar, cheiro, ritmo, enfim, a percepção total do outro, compreendido não como alguém diferente, mas como parte de si mesmo, numa unidade eu-outro.  O samurai buscava prever os movimentos do adversário, antes mesmo de ele sacar a espada, e reagir de maneira espontânea, livre, fluida, sem pensamentos ou juízos de valor (“mu”, o vazio da mente), como um reflexo no espelho. Quando o espadachim raciocina antes de atacar ou defender, ele paralisa ou retarda o movimento, seu corpo fica aprisionado pela mente, e não conseguirá bloquear o movimento do outro e contra-atacar; quando ele adquire plena atenção e percepção, os seus gestos serão livres, fluídos, espontâneos, seguros e cheios de energia (ki), como a correnteza do rio. (Lições transmitidas pelo sensei, Ruben Espinoza. 

BOAS-VINDAS!



Qual é o sentido de treinarmos as antigas artes de combate japonesas no século XXI? Praticamos o Budô (caminho das artes marciais) para aprendermos a lutar com os nossos piores inimigos: o medo, a raiva, o ciúme, a inveja, a ignorância, o apego, a preguiça, a covardia, a impotência, o ódio, a tristeza, o rancor, a futilidade, a sensação de fracasso, as doenças do corpo, da mente e do espírito. O budô é uma jornada interna, espiritual, de autoconhecimento, embora também possa ser usado contra adversários externos. Aprendemos, todos os dias, um pouco mais sobre os nossos defeitos e como superá-los, para sermos pessoas melhores do que somos hoje, em benefício dos seres que estão à nossa volta e de nós mesmos.

MESTRES DO BUDÔ: HIROYUKI AOKI










Hiroyuki Aoki, mestre japonês de artes marciais, pintor, ator de teatro nô e calígrafo. Dedicou-se inicialmente ao Karatê. Criou a arte corporal Shintaido, a partir da qual desenvolveu estilos próprios de luta com a espada (kenjutsu), bastão longo (bojutsu), bastão curto (jojutsu), meditação com a espada (kenbu), saque de espada (iaijutsu) e outras técnicas. Suas artes, transmitidas ao mestre Yamato BioZouk, que as levou ao Brasil, são hoje lecionadas aqui pelo shihan Ruben Espinoza. Aoki desenvolveu uma nova abordagem do budô, enfatizando aspectos filosóficos, meditativos e artísticos, sem perder de vista a eficiência marcial. É um dos grandes mestres das artes marciais japonesas.

BOJUTSU, A ARTE DO BASTÃO LONGO








Bōjutsu (em japonês棒術; lit. "arte do bastão") é uma arte marcial japonesa da tradição samurai que utiliza o bastão longo, ou bô, que tem cerca de 1m80 (o bastão curto, ou jô, utilizado em outras técnicas, tem 1m28). Os movimentos de bastão são rápidos, ágeis, flexíveis e vigorosos. A arte de manejar o bô nasceu em Okinawa, com a adaptação de uma ferramenta de trabalho em arma para a defesa dos camponeses dos ataques incessantes de piratas e atingiu um nível de elevado grau de refinamento nos períodos Azuchi-Momoyama (1573-1603) e Edo (1603-1868). No século XX, Gichin Funakoshi, o criador do Karatê  moderno, levou o Bojutsu para as cidades japonesas, e o estilo tradicional ensinado por ele chegou até o sensei Hiroyuki Aoki, que transformou o Bojutsu numa técnica mais fluida e flexível, como se fosse uma   dança, mas sem perder a função marcial dos movimentos. A técnica chegou ao Brasil com um discípulo de Aoki Sensei, o mestre Yamato Hiramatsu, que também ensinou aqui técnicas de Kenjutsu, a arte da espada samurai, o Shintaido e outras artes marciais e meditativas japonesas. Atualmente, o Bojutsu é ensinado em São Paulo pelo sensei Ruben Espinoza, da Hiramatsu-ryu.