No período
medieval japonês, as principais armas empregadas nos campos de batalha eram as
lanças e os arcos, utilizados por
guerreiros montados em cavalos, enquanto as espadas eram usadas em combates a
curta distância. Os samurais, portanto, recebiam treinamento no manuseio de
vários tipos de armas, adequadas a diferentes situações, além das técnicas
de lutas corpo a corpo, como o Jujutsu. A arte de combate com o arco e flecha,
ou Kyujutsu, utilizava arcos longos, que mediam até dois metros de comprimento.
“Apesar de serem compridos, eles podiam ser usados enquanto se cavalgava, uma
vez que eram segurados no meio, porém mais perto da extremidade de baixo”, diz Thomas D. Conlan, no livro Armas e técnicas
de luta dos guerreiros samurais. Conforme escreve o autor norte-americano, “os
arcos mais antigos e mais simples que ainda sobrevivem eram feitos de galhos
flexíveis, como brotos ou ripas retiradas de pedaços de madeira. Mais tarde, em
arcos compostos, nos quais se usava cola feita de entranhas de cervo, a parte
interna do arco era feita de bambu (...). As flechas também tinham haste de
bambu, de três anos de idade. As pontas das flechas eram feitas de ferro ou
aço, e tinham uma longa haste que se encaixava no bambu oco. Uma variedade de
penas de aves era usada para ajudar as flechas a voarem longe e com precisão –
a maioria delas sendo retirada de aves de rapina.(...) Os samurais levavam
consigo algumas flechas especiais com seus nomes gravados, e usavam-nas ao
mirar em oponentes de elevada patente, o que lhes permitia receber crédito por
essa morte”.
Com a utilização
das modernas armas de fogo, as formas de luta dos guerreiros samurais foram se
modificando, até se tornarem já anacrônicas, em meados do século XIX, quando os
canhões e metralhadoras passaram a ser os reis e rainhas dos campos de batalha.
As antigas artes marciais foram então reformuladas, tendo como objetivo não mais matar oponentes
na guerra, mas cultivar a espiritualidade, a paz interior, a elegância, o
refinamento artístico, a saúde e a longevidade, sem abrirem mão de sua
eficácia. É neste contexto que o Kyujutsu (técnica ou arte do arco)
transforma-se em Kyudo (caminho do arco), com forte influência zen-budista,
como Eugen Herrigel relata no livro A
arte cavalheiresca do arqueiro zen.
No que consiste o
Kyudo? Segundo Howard Reid e Michael Croucher, no livro O caminho do guerreiro, “nesta prática altamente refinada, todo o
desejo de atingir o alvo durante os atos de estirar o arco, mirar e disparar a
flecha é substituído pela concentração na harmonização perfeita da respiração,
do pensamento e da ação. O objetivo confesso do praticante de Kyudo é o de
criar um elo entre o seu espírito e o alvo no momento do tiro. Atingir o alvo é
um detalhe de importância secundária; o que importa de fato é que os movimentos
preparatórios, como os de encaixar a flecha na corda do arco, levantar o arco e
estirá-lo, sejam todos realizados segundo a forma perfeita. Cada movimento deve
ser acompanhado pela respiração harmonizada e pela concentração mental,
técnicas cujo desenvolvimento leva anos. No Japão antigo, o arco era
considerado um objeto de boa fortuna, e o disparo de flechas com pontas ocas
que assoviam pelo ar ainda marca o início de muitos rituais importantes da
religião xintoísta”.
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